Os Jogos Olímpicos da era moderna tiveram sua primeira edição em Atenas no ano de 1896, e adivinhem: sem a participação de mulheres. Em sua 9ª edição em Amsterdã (1932) foram incluídas pela primeira vez provas de atletismo femininas, sendo elas: 100m, revezamento (4x 100m) e 800m[1].
Entretanto, nem todos eram a favor dessa inclusão:
“Os homens nasceram para competir; a competição é estranha à natureza da mulher. Assim, terminemos com os campeonatos de atletismo feminino” [2].
Apesar de Lina Radke ter completado a prova de 800m em apenas 2min16s, o maior destaque deste evento foram os “sinais de exaustão” das competidoras. Houve uma grande polêmica em relação a capacidade de mulheres percorrem longas distâncias, de tal forma que o Comitê Olímpico Internacional suspendeu distâncias acima de 200m para mulheres[1].
Apenas em 1960 a prova feminina de 800m voltou a fazer parte dos Jogos Olímpicos. A maratona por sua vez, praticada exclusivamente por homens desde 1896, teve a primeira edição feminina quase 90 anos depois em Los Angeles, nos Jogos de 1984[3] a campeã Joan Benoit Samuelson, completou a prova em 2h24min52.
Paralelamente, no esporte amador as barreiras enfrentadas pelas mulheres apaixonadas pela modalidade foram similares. Na década de 60 as práticas esportivas a qual eram incentivadas a fazer eram delicadas e em lugares reservados (Figura 1)[4].
Figura 1. Gestos suaves que faziam parte da rotina de exercícios de mulheres na década de 60.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 set, 1963, n. 216, Revista de Domingo, p.3
Apesar de todos os entraves, alguns exemplos de enfretamento a essa realidade podem ser vistos na corrida:
Lyn Carman e Merry Lepper invadiram o percurso da Maratona do Hemisfério Oeste (Califórnia) em 1963 para participarem da prova, oficiais tentaram impedi-las sem sucesso. Lepper completou a prova em 3h37min7s[1].
Roberta Gibb Bingay “pulou” na largada da Maratona de Boston em 1966, completou a prova em 3h21min, a frente de ⅔ dos corredores do sexo masculino[1]. O diretor da corrida não reconheceu o seu feito:
“Roberta não correu a maratona de boston, ela meramente percorreu a mesma rota da corrida oficial enquanto ela estava acontecendo”
Katheine Switzer correu a Maratona de Boston em 1967 sem identificar o seu gênerocorreu a maior parte do percurso com um capuz, quando o mesmo foi removido e seu gênero revelado, o diretor do evento tentou retirá-la da prova (Figura 2) sem sucesso[1].
Figura 2. Diretor da Maratona de Boston em 1967 tentando impedir Katheine Switzer de correr a prova.
Após o boom da corrida na década de 70, o número de corredoras não oficiais aumentou sensivelmente. Em 1972 foi liberada a participação feminina na Maratona de Boston (75 anos após o seu início) e em 1975 para participação da São Silvestre (50 anos após o seu início). A participação de mulheres em corridas acompanhou o processo de emancipação feminina na sociedade[3].
Em 2017 Katheine Switzer correu pela nona vez a Maratona de Boston, usando o mesmo número de peito de sua primeira vez (Figura 3). Dessa vez ela não precisou esconder sua identidade e correu ao lado de outras 12.300 mulheres corredoras.
Depois da corrida ela escreveu em seu facebook: “I finished, like I did 50 years ago. We are here to change the life of women. Just imagine what’s gonna happen in 50 years!”
Figura 3. A esquerda Katheine Switzer correndo a Maratona de Boston em 1967, quando o diretor tentou impedi-la. A direita Katheine Switzer correndo a maratona de Boston em 2017, ao lado de 12.300 mulheres corredoras inscritas.
Texto produzido por: Elaine Alves
Referências bibliográficas:
[1] NEWSHOLME, Eric; LEECH, Toni; DUESTER, Glenda. Corrida: ciência do treinamento e desempenho. São Paulo: Phorte Editora, 2006.
[2] Karl Ritter von Halt, renomado atleta alemão e membro do COI de 1929 até 1964
[3] DALLARI, Martha Maria. Corrida de rua: um fenômeno sociocultural contemporâneo. 2009. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
[4] DIAS, Cleber. Corrida de rua no país do futebol. Recorde: Revista de História do Esporte, v. 10, n. 1, 2017.
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