Embora a atividade física regular e esportes como a corrida sejam benéficos para a prevenção e reabilitação diversas condições (Pedisic et al., 2020), a corrida é frequentemente associada a prevalência e incidência de lesões (Hollander et al., 2018).
Para a prevenção de lesões, os fatores de risco precisam ser bem compreendidos (van Mechelen et al., 1992). Os fatores de risco para corrida são múltiplos e consistem em carga de treinamento, variáveis biomecânicas, anatômicas e antropométricas (Hollander et al., 2021) e recentemente o gênero foi sugerido como um fator de risco para padrões específicos de lesões na corrida, bem como para o risco geral de lesões (McKean et al., 2006).
Mas afinal, há diferença entre as taxas de lesões assim como o tipo de lesão dependendo do gênero do corredor?
Uma recente metanálise (Hollander et al., 2021) investigou sistematicamente essas questões. Nessa investigação foram incluídos 28 estudos com essa temática. Os resultados mostraram que a taxa de lesão entre homens e mulheres não é diferente (20,8% e 20,4% respectivamente). Entretanto a característica da lesão é diferente: mulheres apresentaram maior ocorrência de fraturas por estresse no osso, enquanto homens tiveram maior risco de tendinopatias no tendão de Aquiles.
Corredores do sexo feminino tiveram risco duas vezes maior de apresentarem uma lesão por fratura por estresse em comparação com os corredores do sexo masculino nesta revisão. Fraturas por estresse são lesões comuns relacionadas a corrida, devido a micro traumas cumulativos no osso (Hoenig et al., 2021). Especialmente em idades mais jovens, as mulheres parecem ter um risco maior de fratura por estresse em comparação com os corredores do sexo masculino.
Uma possível explicação que tem sido discutida é a associação de fraturas por estresse com a tríade da atleta feminina (baixa disponibilidade de energia, distúrbio menstrual e baixa densidade mineral óssea) para explicar o maior risco de fratura por estresse em mulheres corredoras (Tenforde et al., 2017).
Já corredores do sexo masculino apresentaram quase o dobro de risco de desenvolverem uma tendinopatia no tendão de Aquiles (Lagas et al., 2020). O tendão de Aquiles é um tendão importante para a propulsão durante a corrida, entretanto por ter uma irrigação sanguínea deficiente, é propenso a lesões por uso excessivo, como uma tendinopatia (Magnan et al., 2014). Embora a carga de treinamento seja o fator chave na etiologia da tendinopatia de Aquiles, existem vários fatores intrínsecos (idade, estresse, genes, biomecânica, composição corporal) que modulam o risco dessa lesão (Cook et al., 2009).
Este resumo dos (possíveis) fatores de risco não explica diretamente o aumento da probabilidade de corredores do sexo masculino terem uma tendinopatia de Aquiles. Portanto, podemos apenas especular sobre os possíveis mecanismos. Um estudo publicado recentemente discute o mecanismo da carga de treinamento acumulada ao longo da vida (junto com os anos de corrida) que pode ser maior em corredores do sexo masculino do que em corredores do sexo feminino (Lieberthal et al., 2019).
A carga de treinamento ao longo da vida precisa ser levada em consideração ao avaliar o risco de tendinopatias de Aquiles. Outra explicação pode ser encontrada nas diferenças hormonais entre mulheres e homens. Por exemplo, o estrogênio está associado à síntese de colágeno e, portanto, pode influenciar a capacidade de cicatrização do tendão (Bryant et al., 2008). Além disso, foi relatado que a deficiência de estrogênio afeta negativamente o metabolismo e a cicatrização do tendão (Oliva et al., 2016).
Referências:
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